Morte de PC Farias completa 20 anos sem ser esclarecida
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ESTÊVÃO BERTONI
JUCA VARELLA
ENVIADOS ESPECIAIS A MACEIÓ (AL)
JUCA VARELLA
ENVIADOS ESPECIAIS A MACEIÓ (AL)
19/06/2016 02h00
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Dois tiros sem nenhum
autor. Dois mortos numa casa vigiada por quatro seguranças sem nenhum culpado.
O assassinato de
Paulo César Cavalcante Farias e de Suzana Marcolino da Silva completa duas décadas na
próxima quinta (23) com a mesma pergunta sem resposta: "Quem matou PC
Farias?".
Faz 20 anos que se
busca uma solução para um crime que abalou a política brasileira nos anos 90 e
que, desde o júri em 2013, foi reconhecido como duplo homicídio.
20
ANOS DA MORTE DE PC FARIAS
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Até hoje, porém, não
se sabe quem atirou no tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor
(1990-92). Nem se houve mandante para o assassinato da peça central do esquema
de corrupção que levou ao primeiro impeachment do país, em 1992.
PC foi encontrado
morto na manhã de 23 de junho de 1996 pelos seguranças. Vestindo pijama, estava
na cama, ao lado da namorada, numa casa de praia em Guaxuma, zona norte de
Maceió. Cada um levara um tiro no peito.
A primeira hipótese
dizia: Suzana, que comprara um revólver Rossi calibre.38, matou PC e depois se
suicidou. O motivo: ele estaria determinado a terminar o namoro.
"De imediato as
secretarias de Segurança e Justiça declararam que foi crime passional",
lembra George Sanguinetti, professor de medicina legal, coronel reformado da PM
e um dos primeiros a contestar o suicídio.
Horas antes de
morrer, Suzana deixara recados no celular de um dentista com quem se
consultara. "Espero um dia rever você, nem que seja na eternidade",
disse.
Os tiros não foram
ouvidos, segundo os seguranças, pois era época de festas juninas.
Um laudo do legista
Fortunato Badan Palhares confirmaria a tese de homicídio seguido de suicídio.
Havia só um porém: ele deixara de medir Suzana na exumação. Dera a ela 1,67 m
com base numa ficha, e a PC, 1,63 m.
ALTURA
DE SUZANA
Em 1999, uma série de
reportagens da Folha derrubou
o laudo de Palhares. Fotografias provavam que Suzana era mais baixa que PC:
tinha 1,57 m. O próprio legista escrevera em artigo que, se a altura estivesse
errada, todo seu laudo também estaria.
A diferença na
altura, associada à trajetória do tiro contra Suzana, dificultava a tese do
suicídio. Exames mostram que os elementos químicos da bala não estavam todos na
mão dela.
"Eu sempre
disse: passional foi o inquérito", diz Sanguinetti. Ele defende que uma
fratura comprova que Suzana foi esganada e morta.
Para Luiz
Vasconcelos, promotor que trabalhou no caso, as provas são incontestáveis.
"Não é que eu tenha 99% de certeza, tenho 100% de certeza de que Suzana
não matou Paulo César."
Descartada a tese
inicial de crime passional, os quatro seguranças de PC que trabalhavam no local
das mortes foram a júri popular em 2013.
Os jurados, apesar de
terem entendido que uma terceira pessoa matou o casal e que os seguranças
poderiam ter evitado as mortes, absolveram os réus.
O promotor que atuou
no júri, Marcus Mousinho pediu a anulação do julgamento. Diz que a decisão foi
contrária às provas dos autos e que uma jurada soube, ainda confinada, que o
marido havia sofrido ameaça. O recurso não foi analisado até hoje.
A tese do duplo
homicídio, apesar do veredito de um júri, peca por não ter chegado aos autores.
Para Mousinho, isso se deve a falhas da polícia na investigação, como não
preservar a cena do crime.
A suspeita já recaiu
sobre Augusto Farias, ex-deputado e irmão de PC. Ele esteve na casa horas antes
das mortes e chegou a ser indiciado, mas o inquérito foi arquivado em 2002, no
Supremo. Augusto sempre negou envolvimento.
Passadas tantas
discussões, nem Sanguinetti nem os promotores acreditam que os responsáveis
sejam identificados. Os irmãos de Suzana ainda têm essa esperança.
"Ninguém quis
resolver. Por que não? No Brasil, quando a polícia e a Justiça querem, se
resolve", diz a jornalista Ana Luiza Marcolino, 56, irmã de Suzana.
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